Biodiesel

Campinas terá uma fábrica de biodiesel, a Renobras, que entra em operação até o final deste mês nas instalações da Ceralit. É a maior fábrica do Grupo Biobras no País com capacidade para produzir 30 milhões de litros por ano de biodiesel à base de girassol e nabo forrageiro. A produção de biodiesel em todo o Brasil não chega hoje sequer a 1 milhão de litros por ano, segundo estimativas do mercado.

O grupo escolheu a cidade por causa da proximidade com Paulínia, onde estão distribuidoras de óleo diesel, derivado do petróleo. Outro motivo que contribuiu para a escolha de Campinas é o fato da cidade abrigar fabricantes de biodiesel — como a Miracema-Nuodex e a própria Ceralit, além de centros de pesquisas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Essas razões fazem Campinas um importante pólo de biodiesel, segundo José Luiz Cerboni de Toledo, presidente da Ceralit e também da Renobras/Biobras.

A Renobras chega, na verdade, num momento em que o mercado já começa a se preparar para o uso comercial de um combustível alternativo que representa redução da dependência do petróleo e a menor emissão de poluentes.

Combustível renovável, o biodiesel é produzido a partir de oleaginosas, como soja, mamona, dendê e girassol (entre outras) ou mesmo o óleo residual que é descartado após a fritura de alimentos. Seu uso comercial já foi autorizado pelo governo brasileiro, que quer impulsionar a produção e consumo a partir da lei 11.097, aprovada em janeiro deste ano.

A lei determina que todo óleo diesel consumido no País deve conter pelo menos 2% de biodiesel. A adição se tornará obrigatória a partir de 2008, mas por enquanto é facultativa. Essa porcentagem deverá subir para 5% até 2013.

Estima-se que a adição de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo cria um mercado interno potencial de cerca de 800 milhões de litros/ano para o novo combustível. A mistura de 2% também possibilita uma economia de U$ 160 milhões por ano somente com a redução da compra de diesel importado.

O Brasil importa 20% do diesel cujo consumo no Brasil é de 36 milhões de metros cúbicos por ano. Para o uso de 5% de biodiesel, esta economia anual chegaria a U$ 400 milhões.

Empregos

A matéria-prima (girassol e nabo forrageiro) para a produção de biodiesel na Renobras tem origem na agricultura familiar. O Grupo Biobrás, segundo Toledo, é responsável por desenvolver, há três anos, um trabalho conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para o plantio de oleaginosas em várias regiões do País. O objetivo é atender a demanda de matéria-prima para as três usinas. O grupo tem mais duas unidades; uma em Mato Grosso e outra em Minas Gerais.

O trabalho desenvolvido, afirma Toledo, envolve cerca de 15 mil famílias de agricultores, nas áreas vizinhas à Cássia, no Estado de Minas Gerais e também em Dom Aquino, no Estado do Mato Grosso. Segundo Toledo, os agricultores familiares alcançam uma renda anual estimada em R$ 3 mil.

"Mais do que ganhos à economia, que são importantes, o uso do novo combustível é também relevante porque significará a geração de mais empregos no campo e na indústria”, afirma. “A partir do plantio das matérias-primas, da assistência técnica rural, da montagem e operação das plantas industriais para produção, do transporte e da distribuição", completa Toledo.

OS NÚMEROS

300 DÓLARES
Custo do metro cúbico do biodiesel de soja

800 DÓLARES
Custo do metro cúbico do biodiesel de mamona

720 DÓLARES
Custo do metro cúbico do biodiesel de babaçu

AS FRASES

“Campinas está anos à frente na produção de biodiesel e nas pesquisas e estudos de desenvolvimento tecnológico.”
JOSÉ LUIZ CERBONI DE TOLEDO - Empresário

“Se o óleo vegetal fosse revertido só para biodiesel, o mundo poderia girar 3 semanas por ano à base de biodiesel”.
OTTO ROHR - Engenheiro químico

Experiências começaram nos anos 70

A experiência brasileira com biodiesel começou nos anos 70, principalmente com óleo de soja incluindo testes em ônibus urbano. De lá para cá, novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas para aproveitar a chamada biomassa disponível no planeta.

Nascida ainda na incubadora da Unicamp, a Bioware Tecnologia transforma biomassa em energia limpa. A empresa produz bioóleo através de uma tecnologia chamada de pirólise rápida (degradação térmica acelerada). Os resíduos podem ser desde bagaço de cana, cascas, palhas e até plásticos. "Desse óleo, uma fração de cerca de 30% dá para produzir biodiesel. O restante são insumos para a indústria química", explica José Dilcio Rocha, engenheiro químico, sócio da Bioware Tecnologia.

Rocha diz que de uma tonelada de palha, por exemplo, é possível obter 700 quilos de óleo. Desse volume, 200 quilos (ou um quarto) são de biodiesel. A empresa também comercializa a tecnologia de briquetagem e peletização de resíduos agrícolas seguida de torrefação — tratamento térmico — que melhora as características de queima do material para geração de energia. "Eles são usados na substituição da lenha", acrescenta Rocha.

Ele e o sócio, Juan Mesa, pesquisador da faculdade de Engenharia Química da Unicamp, criaram a Bioware para comercializar as tecnologias e produtos de biomassa.

A primeira planta-piloto foi montada inicialmente em Piracicaba em parceria com o CTC. "Ela está sendo transferida esse mês para o Instituto de Zootecnia de Nova Odessa em uma nova parceria com a Universidade. A empresa mantém cooperação com o Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), a Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e o Grupo Combustíveis Alternativos

Segundo Rocha, há perspectiva de colocar ainda esse ano uma planta para funcionar em escala industrial. Ele explica que a realidade brasileira e o momento de grande demanda por energia limpa que o mundo passa é muito propícia para que o País tenha desenvolvimento ainda maior na área da bioenergia. Por exemplo, o grande gargalo hoje para o avanço no uso de resíduos de forma mais eficiente é a falta de financiamentos. "Tecnologicamente o Brasil tem tudo que precisa para aplicar nesse importante setor. O Brasil reúne condições favoráveis para se tornar um grande produtor mundial de biodiesel por dispor de solo e clima favoráveis para o plantio de oleaginosas e já dispor de larga produção de etanol. Mas ainda há grandes desafios a serem enfrentados", argumenta.

O principal deles é o custo dos biocombustíveis, que é fortemente dependente do custo da matéria agrícola. Estimativas do mercado é de que o custo econômico da produção é de R$ 1,4/litro até R$ 4/litro, dependendo da matéria-prima usada para o biodiesel.

O pesquisador defende que o Brasil pode e deve produzir muito mais do que produz hoje. Mas o programa governamental precisa de aumento na produção de oleaginosas.

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